Aguinaldo Silva dispara sobre o politicamente correto: “Não há nada mais venenoso”

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Aguinaldo Silva comemora o Emmy Internacional que ganhou pela novela “Império” nesta semana

Com a vitória de “Império” no Emmy Internacional nesta semana, Aguinaldo Silva abocanhou a sua segunda estatueta na premiação – a primeira veio em 2011, por “Laços de Sangue”, novela portuguesa da Globo em parceria com a SIC – ele atuou na supervisão do texto. Para a coluna “Outro Canal”, ele afirmou que a consagração é reflexo do trabalho árduo que teve para mostrar algo novo no gênero nesta altura da carreira.

“Das novelas que escrevi, [Império] foi a mais bem escrita. Na minha idade, 72, a gente começa a ligar o automático. Ali percebi que não podia fazer isso. Essa premiação mostra algo óbvio, mas não muito bem visto: o novelista tem que se matar, se quiser fazer uma boa novela. Não basta fazer o rotineiro, tem que ir além”, revelou.

O novelista alegou que a fórmula utilizada para sair do óbvio foi ter se despido do pudor, já que, em tempos atuais, as novelas sofrem com as críticas do politicamente correto. “Não há nada mais venenoso, mais destruidor para o melodrama, que o politicamente correto. No final de “Império”, o protagonista adorado, o comendador (Alexandre Nero), morre. Uma ousadia que se vê em “Breaking Bad”, não em novelas”, avaliou.

Silva também aproveitou para opinar sobre o número excessivo de tramas muito realistas. Para ele, há um desgaste por abordagens nos mesmos ambientes, como a favela: “Fui o primeiro a colocar uma favela como cenário principal em “Duas Caras” (2007). De lá para cá foram tantas as favelas protagonizando novelas, que as pessoas começaram a ficar cansadas. Brinco que minha próxima novela só terá rico, vai se passar toda nos Jardins em SP [risos]. Essa coisa de vamos mostrar a vida como ela é, é para o jornalismo. A tarefa da novela é fazer o público sonhar.”

O dramaturgo ainda pontuou que há a necessidade de renovação no mercado, por isso passou a ministrar cursos para novos autores. “A gente [autores] trabalha muito porque não tem renovação. A primeira coisa que precisa para escrever novela é ter experiência de vida. Tô tentando formar pessoas que ocupem o meu lugar e permitam finalmente que me aposente [risos]. Daqui a pouco eu vou morrer e isso vai se perder. A sabedoria é um bem comum que temos que passar”, opinou.

Sobre a atual crise de audiência que os folhetins vêm passando, o escritor vê como algo natural. “O modo de ver televisão mudou muito. Hoje em dia tem uma gama de escolha, tem a Netflix, que veio para ficar. A audiência está muito fracionada. Não existe mais aquela audiência que as novelas davam antigamente, mas a novela continua sendo a maior audiência da TV”, avaliou.

Aguinaldo acredita que os seriados, tendência nos serviços on demand, devem invadir a televisão brasileira com mais afinco em breve. Porém, pontuou que, para isso, o país tem que reinventar a forma de fazer dramaturgia. “Ainda não aprendemos a fazer seriado. Os nossos estão na base de “sitcom”, e isso tá superado. Ou a gente aprende a fazer seriado ou a gente fica para trás, perde uma fatia boa de mercado”, sentenciou.

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Da RedaçãoDa Redação
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